Delegado do caso Bobadilla registra BO após ser alvo de ofensas em redes sociais por conta de problema de visão
26/06/2025
(Foto: Reprodução) Rodrigo Correa Baptista, titular da delegacia que investiga crimes de intolerância esportiva, foi atacado após entrevista sobre o caso Bobadilla, jogador do time do São Paulo, em maio. O delegado Rodrigo Correa Baptista, responsável pela investigação de crime de xenofobia atribuído ao jogador Bobadilla, do time do São Paulo, registrou um boletim de ocorrência após ser alvo de comentários capacitistas nas redes sociais.
Baptista, que é titular da Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade), afirma ter visão monocular — condição em que a pessoa enxerga apenas com um dos olhos, enquanto o outro tem perda significativa ou total da visão. A deficiência, segundo ele declarou no BO, é decorrente de uma enfermidade sofrida por ele ainda na infância.
O delegado foi atacado por usuários nas redes após conceder entrevistas a veículos esportivos no fim de maio para falar da apuração da investigação contra o jogador paraguaio.
“Foi desafiador pra mim. Eu sofri preconceito a vida inteira, disse Baptista ao g1. "Além de carregar a deficiência, enxergar de um olho só, ter minhas limitações, eu sempre sofri preconceito. Então, é uma dupla dor: a dor da limitação e a dor do preconceito. O preconceito é muito maior, porque as pessoas te limitam, te diminuem por um padrão que não representa nada."
"Eu enxergo bem de um olho, o outro me limita, mas eu consigo viver normal. Então, foi desafiador no sentido de ver tanta gente me ridicularizando e me diminuindo ali na rede social, mesmo eu sendo um delegado e falando de um caso de injúria racial. Eu fiquei surpreso nesse sentido. Parece que é uma terra sem lei. Foi por isso que eu decidi falar e expor essa questão. Realmente fiquei impressionado com a audácia dessas pessoas, que falam o que querem, da forma que querem, sem nenhum tipo de juízo de valor ou reprovação das condutas”, completou.
Delegado Rodrigo Correa Baptista, da Polícia Civil de São Paulo
Reprodução
Entre os autores das ofensas está o humorista Gui Santana. O nome dele foi citado no BO registrado na quarta-feira (26).
Segundo o documento, a entrevista de Baptista foi compartilhada em perfis oficiais no Instagram e Facebook. Nos comentários, usuários fizeram piadas e ofensas sobre sua condição física, referindo-se à deficiência ocular.
O boletim foi registrado como crime de injúria qualificada — quando a ofensa tem como alvo a condição de pessoa com deficiência — e também com base no artigo 88 do Estatuto da Pessoa com Deficiência, que trata da incitação à discriminação em meios de comunicação.
O delegado entregou cópias dos comentários às autoridades e manifestou interesse no prosseguimento da investigação, assim que os responsáveis forem identificados.
Pela lei, a vítima tem um prazo de seis meses para apresentar representação criminal contra os autores, contado a partir do momento em que souber quem são os responsáveis pelas ofensas. Esse tipo de crime depende dessa manifestação formal para que a apuração avance. O delegado informou que deseja prosseguir assim que a autoria for confirmada.
O g1 procurou o humorista Gui Santana para comentar o caso, mas não havia obtido resposta até a última atualização desta reportagem. O agente do humorista disse ao g1 que ele está ciente do caso, se desculpou e também tentou falar com o delegado, que, segundo o agente, não quis conversar.
Jogador venezuelano acusa paraguaio Bobadilla, do São Paulo, de xenofobia durante partida pela Libertadores
Reprodução/TV Globo
Caso Bobadilla
A investigação do delegado Baptista trata da acusação de xenofobia contra o volante Bobadilla, do São Paulo. O jogador foi denunciado por ofensas ao venezuelano David Martínez, do Talleres, durante partida da Libertadores no estádio do MorumBIS, em maio.
Na ocasião, após o segundo gol dos donos da casa — aos 40 minutos do 2° tempo — Bobadilla se aproximou do adversário e teria gritado em espanhol: "venezuelano morto de fome". O caso gerou repercussão internacional, e o São Paulo chegou a afastar o jogador temporariamente. Ele já prestou depoimento à polícia e nega ter cometido crime.
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