Ibama e ribeirinhos protegem cerca de 200 mil ovos de tartarugas na foz do rio Amazonas
02/11/2025
(Foto: Reprodução) Ibama e ribeirinhos protegem cerca de 200 mil ovos de tartarugas na foz do rio Amazonas
Milhares de tartarugas-da-Amazônia estão desovando até dezembro em ilhas entre os estados do Pará e Amapá. Para garantir a sobrevivência dos filhotes, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e comunidades ribeirinhas estão manejando cerca de 200 mil ovos por meio do Programa Quelônios da Amazônia.
Os ninhos são transferidos para áreas seguras para evitar que a maré alta destrua os ovos. A técnica, chamada de translocação, também ajuda a reduzir os impactos das mudanças climáticas. A desova foi registrada pela Rede Amazônica e pelo g1 no arquipélago dos Camaleões, em Afuá (PA).
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Segundo o Ibama, cerca de 80% dos ovos são salvos com a intervenção humana. O programa foi criado em 1981 para proteger espécies em risco de extinção.
“A região sofre com variações intensas de maré, por isso os ovos precisam ser retirados dos ninhos para não serem levados pela água. A translocação é essencial”, explicou Márcia Bueno, coordenadora do programa no Amapá.
Luiz Barros de Sena, ribeirinho e guardião do projeto há 40 anos, percebeu alterações no período de desova ao longo das décadas.
“Quando cheguei aqui há 40 anos, elas começavam a desovar por volta de 25 de agosto. Este ano, só começaram em 20 de outubro. A gente acredita que esse atraso é causado pela mudança climática”, contou.
Ele, a esposa e os filhos trabalham junto com o Ibama na proteção dos ninhos no arquipélago.
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Programa Quelônios da Amazônia na foz do rio Amazonas
Como funciona o berçário
As tartarugas sobem à praia no fim da tarde, quando a areia esfria, para desovar. Duas áreas da ilha concentram a maior parte dos ninhos. Centenas de animais retornam ao local onde nasceram para completar o ciclo.
Em uma única manhã, os ribeirinhos localizaram 60 ninhos, com cerca de 90 ovos cada. Os ovos são colocados em bandejas e levados de barco até outra ilha, por rios e igarapés. Lá, ficam em uma área chamada translocação — um berçário onde os filhotes nascem com mais segurança. Cada bandeja contém ovos de uma única tartaruga e não pode ser misturada.
Os filhotes devem nascer em janeiro e, depois disso, são soltos na natureza.
“Em 42 anos, soltamos milhares de filhotes. É um trabalho que a natureza agradece”, afirmou Bernardino Nogueira, superintendente do Ibama no Amapá.
Por conta da proximidade com o Amapá, a superintendência do órgão no estado também é responsável por parte das ilhas do Pará.
Programa Quelônios da Amazônia
Criado em 1979, o Programa Quelônios da Amazônia é o mais antigo do Brasil dedicado à conservação de espécies silvestres. Desde então, já manejou mais de 70 milhões de filhotes.
O projeto conta com a participação de comunidades ribeirinhas e incentiva o uso sustentável da biodiversidade. Entre os objetivos, estão a produção de até 10 milhões de filhotes por ano e o envolvimento direto da população na conservação dos habitats.
O Brasil é o único país da América do Sul que ainda possui estoques significativos dessas espécies, o que permite ações de recuperação e manejo sustentável.
Programa Quelônios da Amazônia realizado pelo Ibama e ribeirinhos na foz do rio Amazonas
Rafael Aleixo/g1
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