Quem é o CEO da Kodak, filho de costureira e zelador, que tenta resgatar ícone da fotografia da falência
29/10/2025
(Foto: Reprodução) O CEO da Kodak que tenta resgatar ícone da fotografia da crise
Desde que a Kodak saiu da falência, em 2013, o executivo James Continenza, de 63 anos, assumiu a presidência da empresa, com a missão de recolocar nos trilhos uma das marcas mais icônicas da história da fotografia e que perdeu espaço com a popularização das câmeras digitais e dos smartphones.
O executivo, de origem ítalo-americana, filho de uma costureira e de um zelador, costuma circular pessoalmente pelas fábricas da Eastman Kodak, que hoje emprega cerca de 4 mil pessoas, segundo o jornal britânico Financial Times.
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“Quando você anda por lá, encontra gente da classe trabalhadora, feliz em te ver e conversar com você”, disse em entrevista ao Financial Times nesta semana. “Muitos funcionários de grandes empresas passam 30 ou 40 anos sem nunca conhecer o CEO. Isso, para mim, é inacreditável.”
Continenza construiu sua carreira recuperando companhias em crise. Passou por empresas de telecomunicação como AT&T e Lucent e se especializou em “turnaround” — o processo de reerguer negócios em dificuldade.
Entrou no conselho de administração da Kodak a convite dos credores, em 2013. Foi nomeado presidente executivo do conselho em 2019, e CEO da empresa em julho de 2020. Desde então, trocou o escritório pelas visitas a clientes, fornecedores e unidades de produção.
Ao Financial Times, o executivo contou que, quando chegou à empresa, a burocracia era enorme e as decisões demoravam demais.
“Levava dias para marcar uma reunião com meus diretores e semanas para que cada divisão apresentasse informações básicas, como quem eram seus principais clientes”, afirmou. “Era como dirigir um carro vendado.”
O executivo disse, ainda, que atualmente reduziu a hierarquia e centralizou decisões em um grupo menor de executivos. “Simplificamos tudo. Cada área foca no que faz melhor”, contou ao jornal britânico.
Jim Continenza, presidente da Kodak.
Divulgação/Kodak
Continenza afirmou, ainda, que um dos momentos mais marcantes de sua gestão foi uma visita que fez ao Museu George Eastman, em Rochester, estado de Nova York, onde está localizada a sede da companhia. Lá, viu câmeras inovadoras criadas pela Kodak — mas que nunca tiveram sucesso comercial.
“Gastamos milhões nesses projetos e tivemos pouco retorno. Eu preferia ter investido esse dinheiro nos funcionários e acionistas”, disse ao Financial Times.
Do auge à queda
A trajetória da Kodak começou em 1879, quando George Eastman registrou sua primeira patente para uma máquina de revestimento de chapas.
Em 1888, lançou sua primeira câmera por US$ 25 (R$ 134,23 na cotação atual), com o slogan: “Você aperta o botão, nós fazemos o resto”.
Durante o século XX, dominou o mercado mundial de filmes e câmeras, tornando-se um símbolo da era analógica.
Câmeras Kodak Instamatic: Lançadas em 1963, as câmeras Instamatic usavam filmes em cartucho de fácil carregamento, tornando a fotografia amadora mais acessível e popular.
Divulgação
Mas, ironicamente, foi uma tecnologia criada dentro da própria empresa — a fotografia digital, em 1975 — que iniciou seu declínio. A Kodak demorou a apostar nesse novo modelo de negócio e perdeu espaço rapidamente.
Nos anos 1990, as vendas despencaram, e em 2012 a companhia pediu falência, com dívidas de cerca de US$ 6,75 bilhões (R$ 36 bilhões).
Em 1975, Steven Sasson, enquanto trabalhava na Kodak, inventou a primeira câmera digital do mundo
Divulgação
A partir de 2020, a Kodak diversificou suas atividades e passou a produzir também insumos farmacêuticos a pedido do governo dos EUA. Hoje, mantém a fabricação de filmes para cinema, produtos químicos industriais e licencia sua marca para diferentes itens de consumo.
Mesmo assim, o peso das dívidas continua sendo um desafio. Em junho, a empresa informou que não tem recursos suficientes para quitar cerca de US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões) em débitos.
O relatório financeiro da companhia reconheceu que essa situação “levanta dúvidas” sobre sua capacidade de manter as operações no longo prazo. No segundo trimestre deste ano, a Kodak registrou prejuízo de US$ 26 milhões e queda de 1% na receita em relação a 2024.
Plano de recuperação
Para reduzir custos e tentar estabilizar as contas, a Kodak encerrou seu antigo plano de previdência privada — que era superfinanciado — e criou um novo modelo para os funcionários atuais. Parte do dinheiro liberado será usada para pagar dívidas.
Segundo o Financial Times, Continenza espera concluir esse processo, conhecido como “reversão da previdência”, até o ano que vem, e diz ter alternativas de financiamento caso o cronograma atrase. Segundo ele, ainda levará cerca de dois anos para que a estratégia de recuperação seja totalmente executada.
Atualmente, a empresa concentra seus investimentos em três frentes: impressão comercial, materiais e produtos químicos avançados — como revestimentos para baterias e antenas — e farmacêutica, com a produção de reagentes aprovados pela agência americana FDA, a Anvisa dos Estados Unidos.
Além disso, mantém a produção de filmes analógicos, que voltaram a ser procurados por fotógrafos e cineastas, e continua licenciando a marca Kodak para outros produtos.
Segundo Continenza, cerca de 90% da reestruturação da companhia já foi concluída.
“Quando terminar, vou sair”, afirmou ao jornal britânico. “Aí será a hora de outra pessoa assumir e levar a Kodak para o próximo capítulo.”
Logo da Kodak
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