Rendeira + Tangará: híbrido raro é registrado em MG

  • 07/06/2025
(Foto: Reprodução)
Indivíduo filmado em Conceição dos Ouros (MG) é o quarto conhecido no Brasil. Cruzamento natural entre aves de gêneros diferentes é fenômeno incomum. Rendeira + Tangará: híbrido raro é registrado em MG Entre o ballet do tangará (Chiroxiphia caudata) e as acrobacias delicadas da rendeira (Manacus manacus), surge uma nova ave que intriga os estudiosos da biodiversidade. O híbrido, ainda sem nome popular “oficial”, foi visto até agora por poucos observadores. Mais precisamente, quatro observações já foram feitas desse provável cruzamento entre as espécies. Provável porque, até que sejam publicados os estudos genéticos já realizados em um dos indivíduos, não é possível afirmar quem é o pai e quem é a mãe desta ave intrigante. O híbrido de Conceição dos Ouros O caso mais recente desse híbrido foi registrado em Conceição dos Ouros, Minas Gerais, pelo observador e guia de observação Wagner Loureiro, que filmou e fotografou a ave em uma mata, à beira de uma trilha. Ele guiava o cliente José Maria Franco, quando foi surpreendido com o que viu no visor da câmera. “Foi no início do mês de maio. A gente estava atrás de espécies que eram “lifer” para o Zé, quando começamos a ouvir a vocalização da rendeira, que é muito rara aqui para a cidade. Era um macho. O Zé conseguiu fotografar e eu não. Aí passou um pouco, eu estava chamando os tangarás e o Zé falou: ‘a rendeira voltou, dá para você fazer a foto’. E quando eu fui fotografar, eu observei que a cabeça dela era toda branca. Aí eu já falei: ‘Zé, fotografa também que é um bicho diferente”, relembra Wagner. Possível híbrido foi fotografado em mata em Conceição dos Outros (MG) Wagner Loureiro Wagner ainda voltou outras vezes atrás do bicho e pôde observá-lo novamente. As imagens foram compartilhadas nas redes sociais do Wagner e chegaram também a dois ornitólogos: Fernando Pacheco e Wagner Nogueira, que trouxeram a informação do provável hibridismo e de quais espécies estariam envolvidas nesse cruzamento. É um bichinho incrível que tem características que permitem a gente chegar numa conclusão com relativa segurança de quem é que está envolvido nessa mistura É importante salientar que as fêmeas de tangará e rendeira têm a coloração muito parecida. As cores características de cada espécies se destacam nos machos. Machos da espécie têm coloração bem característica Leonardo Vilela/TG Fernando Pacheco ressalta a raridade do cruzamento entre espécies de gêneros diferentes. “Muitas vezes você tem híbridos intergenéricos em laboratório, criadouro, que são induzidos. Mas híbridos intergenéricos na natureza são eventos raros, o que coloca este registro em Conceição dos Ouros no livro das raridades”. Para Nogueira agora é importante realizar o máximo de registros possíveis, de diferentes ângulos, incluindo gravações do som emitido pela ave, algo que Wagner Loureiro tem providenciado, já que a ave está sendo vista com uma certa frequência. “Dá para coletar amostras de DNA que são pouco invasivas, como fezes, por exemplo, que talvez vale a pena tombar em alguma coleção científica, para poder depois tentar resgatar o DNA desse bicho e aí sim, ter certeza de quem é a mãe e de quem é o pai deste híbrido”, detalha o especialista. Fêmeas da rendeira e do tangará têm cor bem parecida Thiago Arruda “A gente pode dizer que o Wagner Loureiro está com muita sorte”, finaliza Pacheco, ao lembrar outras espécies encontradas por Loureiro na cidade mineira, como o caburé-acanelado (Aegolius harrisii). Também foi com Wagner Loureiro que a equipe do TG encontrou o arapapá (Cochlearius cochlearius). O guia e observador, que acabou de ser formar em biologia, teve ainda outros encontros raros com espécies híbridas, todos na mesma região. Indivíduos como o tangará-rei (híbrido do tangará com o soldadinho), uma possível híbrida de murucututu e murucututu-de-barriga-amarela e um provável híbrido do sagui-da-serra-escuro com o sagui-do-tufo preto. O primeiro caso – Cataguases (MG) O primeiro caso que se tem conhecimento de um possível híbrido entre tangará e rendeira data de 2017. O ornitólogo e naturalista Marcelo Vasconcelos conta que o colega e também pesquisador Ralph Maturano, durante um trabalho de campo em Cataguases, leste de Minas Gerais, coletou uma ave que estava morta e que ele não sabia o que era. “Ao ver a foto eu falei que parecia um cruzamento entre rendeira e tangará, mas que isso só poderia ser confirmado com testes genéticos”, lembra. Indivíduo taxidermizado está na coleção científica do Museu de Ciências Naturais da PUC-Minas. Marcelos Vasconcelos Marcelo foi até Juiz de Fora, onde Ralph atua, para ajudar o pesquisador no processo de taxidermia. O exemplar foi depositado no Museu de Ciências Naturais da PUC-Minas e passou a ser a base para um estudo mais aprofundado para a elaboração de um artigo científico a respeito do achado. Este processo está em andamento, com a previsão de testes que irão confirmar “os parentais”, como se referem os biólogos aos “pais” da ave híbrida. O primeiro vídeo – Piraí (RJ) O primeiro vídeo que se tem conhecimento de um híbrido entre tangará e rendeira foi feito em 2018 por Daniel Mello, em companhia do irmão Gabriel e dos amigos Marcelo Guerrao e Yan Miranda, na cidade de Piraí, no Rio de Janeiro. Na ocasião, o grupo também fez fotos, disponíveis no WikiAves, além da gravação da vocalização da ave. Esses dados compõem o estudo para o artigo sobre o híbrido, que foi apelidado por Guerrao como “renderá”! Após o compartilhamento desse vídeo, o observador Miguel Bellucci fez novas postagens no WikiAves, relatando o registro de um indivíduo semelhante em Londrina, no Paraná, em 2023. “Outras” rendeiras em Piraí (RJ) Marcelo Guerrao, que estava no dia do encontro com o híbrido, tem ainda um outro registro envolvendo a rendeira, muito especial e na mesma cidade onde o primeiro híbrido foi encontrado: Piraí, no Rio de Janeiro. “Aqui temos a ocorrência de muitas rendeiras”, conta. São dele as únicas fotos, na plataforma WikiAves, de uma rendeira com flavismo, uma mutação genética que altera a cor das penas da ave, as deixando mais amarelada. Rendeira com mutação genética flavismo foi encontrada na mesma cidade do híbrido. Marcelo Guerrão Guerrao, que é geógrafo e professor de geografia, conta que, durante a pandemia, entre as aulas remotas, fez uma observação no quintal de casa e foi surpreendido por esse indivíduo. “Pensei que era um pintinho, já que tenho garnisé e ela estava com filhotes, mas não era”, lembra. Marcelo conta que viu a ave por pouco tempo. “A vi por cerca de dois meses, suspeito que ela acabou sendo predada”. De qualquer forma, Guerrao guarda no coração essa história e conta com muito carinho sobre esse encontro. Hibridismo, mutações, fenômenos que nos mostram o quanto a natureza é surpreendente, o tempo todo. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2025/06/07/rendeira-tangara-hibrido-raro-e-registrado-em-mg.ghtml


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